Engraçado como o mundo é justo.
Eu costumava duvidar disso,
mas, aos poucos, com os anos, fui aprendendo que ele é sim, muito, muito justo.
Deus sabe exatamente o que faz. Como faz e por que faz, principalmente.
Quando era mais nova, achava
que nada aconteceria comigo. Que nunca seria capaz de nada. Que nunca minha vez
chegaria. E fui vivendo a vida de forma amarga. Sim, vivi a minha adolescência
de forma amarga. Era uma decepção depois da outra. Sempre achava que as coisas
não davam certo para mim, só para mim.
Hoje, não sou tão velha, nem
foi tanto tempo que passou, tenho apenas vinte anos, poxa, mas já posso
perceber que estava errada. Primeiro de tudo: minha infância foi maravilhosa e
não posso reclamar dela. Tive a presença constante de minha mãe, que me criou
nos moldes que achava corretos e me transformou em quem sou hoje, e, por isso,
agradeço-a. Talvez não estivesse onde estou (chego já ao ponto) se não fosse
por ela. Na adolescência, tive experiências maravilhosas, tive o apoio e o
suporte de minha família o tempo inteiro, quando as dificuldades pareciam
impossíveis de se resolver, minhas avós, meus avôs, meus tios, todos estavam lá
por mim. Ah, também foi o período que conheci as pessoas que eu ESCOLHI para
ser parte da minha vida, os amigos que nunca me abandonaram, mesmo quando todos
me chamavam de “chata” e “nerd” e tantas outras coisas.
Agora, que virei uma “adulta”,
as coisas vão acontecendo numa velocidade tão rápida que nem percebemos o mundo
ao redor. Mas, parando hoje para pensar, vejo que sim, o mundo É muito justo.
Todo o estudo que tive,
mesmo que à força, mesmo que achasse que não valia de nada, valeu. Estou no
terceiro ano da faculdade e sou, modéstia à parte, uma excelente aluna. Oi?
Isso não vale de nada? Claro que vale. Isso me fez passar no estágio que queria
ter, num momento em que eu achei que não servia para nada, que era uma
zé-ninguém.
Todas as amizades que fiz se
mostram cada vez mais firmes e fortes. Sempre me apoiando e me ajudando, no que
eu preciso, sempre.
Todos os empregos que tenho
caíram quase que de paraquedas em cima de mim. Primeiro, eu decidi que os
queria, e então foi só uma questão de tempo até consegui-los. De um por um.
Provando sempre a mesma que eu tinha os meios e as qualificações.
E, hoje, realizando mais uma
conquista. Dar aulas. Coisa que gosto de fazer desde que aprendi a falar.
Agora, oficialmente. Não é pelo dinheiro, não é pela carteira assinada. É por
mim mesma, sabe? Para provar a mim, e só a mim, que eu POSSO.
Ok, talvez o amor não seja
justo. Mas o mundo não tem nada haver com isso. Ele está fazendo sua parte,
girando e girando, dando voltas e mais voltas, como uma enorme roda-gigante. E,
mesmo quando estamos lá embaixo, é só uma preparação para subirmos. E quando
estamos no topo, mesmo que pareça só um segundo, é o tempo mais duradouro que
teremos, sempre.
Até o sofrimento, até a
ausência de pessoas que amo, até a dor, até os cortes, até as idas ao hospital
de madrugada, tudo isso me fez crescer. Não que eu esteja aqui querendo
justificar essas coisas, não mesmo. Não sei ainda como me sentir completamente
em relação as coisas listadas acima. Mas sei que elas aconteceram por uma
razão. É assim que funciona a lei de Deus.
E a lei de Deus é clara. Ama
o teu próximo como a ti mesma.
Bom Deus, eu estou ainda
aprendendo a amar a mim mesma. Aos poucos estou me conhecendo, me descobrindo,
vendo do que sou capaz. Buscando qualquer coisa que me faça feliz.
Preencher meu dia com
rotinas de coisas que me fazem bem, esse foi o meio que achei para ser feliz. É
cansativo. Mas eu posso dizer, com propriedade, que me faz mais feliz.
As pessoas me perguntam como
consigo. Simples: tente passar o dia sem fazer nada escutando o quanto você é
ruim, e então passe o dia fazendo mil coisas escutando de pessoas (reais) o
quanto você faz muito. Então vai saber por que escolhi a segunda opção.
Ainda faltam algumas coisas
para que eu me torne completamente realizada, mas a gente chega lá.
E esse foi mais um desabafo
das madrugas.
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