Meu retrato, e não o de Dorian Gray

Eu estou lendo Oscar Wilde. Mais especificamente O retrato de Dorian Gray. Ainda não terminei. Estou na metade, na verdade. Mas já me deu muita coisa para pensar.
Como seria se eu pudesse me observar como Dorian se observa, de fora. Como se não estivesse acontecendo com ele.
Como seria minha reação de fronte a um espelho que me retrataria da forma mais humana e pecadora possível. Deu foi um nó na minha cabeça. 
Deixa eu explicar:
Na história, Basil (artista, pintor, amigo e adorador de Dorian) pinta um quadro de Dorian, que, mais tarde, fascinado pelas reflexões de um certo Lord Henry, nada supérfluas, vê que a sua beleza e juventude é apenas passageiro. Ele se assusta e praga o quadro, por ter marcado uma fase tão linda de sua vida, quando ele, Dorian, iria desgastar-se.
Mas o que acontece é justamente o contrário. Enquanto o personagem comete pecados e é acometido pelo tempo, quem muda é o quadro. Ele, Dorian, fica intacto. 
Não quereria eu ficar intacta. Já imaginou que chatice passar pelo mundo e não carregar suas próprias marcas? 
Às vezes sinto vergonha de minhas marcas. Mas logo percebo que são elas que me construiram. Aí acabo ficando muito orgulhosa delas. São resultados de muita labuta. Do tempo que passou. São memórias estampadas na pele. Nem todas boas, a maioria ruins, até. São as dores que nos marcam a imagem, não as alegrias. 
Não queria eu ser como Dorian, a viver à sombra da sua bela e tenra feição. 
Gosto de não ser essa perfeita imagem imaculada pelo tempo. Gosto que o tempo passe. Gosto de saber que vou envelhecer e que rugas marcarão minha face. Faz-me mais humana. Faz-me mais compreensiva com o próximo, mais amável com aqueles que me tem de boa conta.
Ainda não sei o que vai acontecer quando Dorian perceber que guardar seu passado, pintado inutilmente e pendurado num quarto escuro, para ninguém ver, não adianta de nada. Não sei se vai ele conservar essa beleza, essa juventude, essa vida de pureza e sem pecados.
Sei que sou pecadora, não sou bela, não sou pura, não sou jovem. Mas sou quem sou. E, no final, é quem somos que conta.

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