Estive pensando...

 ser humano é um animal muito estranho mesmo. (Ou talvez apenas eu seja).
Quero dizer, toda essa racionalidade que dá voltas no mundo e nem sempre chega onde quer. Nem sempre chega a algum canto. Pensamos, existimos, pensamos, pensamos, pensamos. Pensamos em por quê existimos e em como existimos. Pensamos nas possibilidades, nos "se" dá vida e no futuro. Pensamos sobre o passado. Pensamos, e é isso que nos faz humanos.
Outro dia estava a pensar profundamente sobre um desses assuntos que nos faz racionais. Sabe quando estamos quietos em nosso canto, tão quietos que sempre chega alguém para perguntar "pensando em quê?" e nós, na nossa simplicidade e sinceridade, apenas respondemos "na vida".
Pois então. Estava a pensar. Eu nunca fui uma garota muito radical ou revolucionária. Não, eu sempre gostei das coisas como são, sempre fui bem acomodada, obrigada. Não viajo muito, não mudo muito. E nem nunca pensei muito sobre isso. Afinal, para mim, minha vida sempre foi isso aqui mesmo, esse lugar, essas pessoas, essas coisas.
E então me vem o 3º ano e as indagações sobre o futuro.
Eu nunca vi outro lugar no mundo, outras culturas ou outras pessoas. E por quê mesmo? Essa comodidade que sempre tive. Acho que eu me mimei demais. Talvez, lá no fundo, meu desejo de viajar, de conhecer, de aprender, esteja guardado para um momento propício. Mas ele está lá sim!
Minha família é outro ponto importante na minha vida. Quero dizer, claro que é. Minha mãe é meu pilar de sustentação e esteve, todos esses anos, sempre "lá", aonde quer que lá fosse, me apoiando e me ajudando, me sustentando mesmo. E longe de mim estar reclamando, não, não, muito pelo contrário, sou muito agradecida a ela por tudo que sempre fez por mim, tudo que é disposta a fazer, devo a ela minha vida inteira. Mas então minha mente começa a vibrar e meus pensamentos a surgir: "mas e se ela não estiver?".
Se ela não estiver eu simplesmente não sei o que fazer. Digo, não passamos 24h do dia grudadas uma na outra, há dias que nem nos vemos. Mas eu sei que ela está lá, em algum canto, pensando em mim, eu SEI que ela está lá. Eu nunca me imaginei ou me preparei para outra situação que não essa. Nunca passei um longo tempo longe.
E tem também o meu pai. Ok, ele tem defeitos como qualquer pessoa no mundo, e ele não é exatamente como minha mãe que está sempre "lá". E nós passamos muuuito tempo sem nos ver, meses e meses. Sem nem ao menos nos falar, até. Mas, no fundo, eu também sei que ele existe, que me quer bem. Eu tenho um pai e isso é bem conveniente, presente ou não no meu dia-a-dia. Sem falar em toda a família que vem dentro do pacote, avós, tios, primos, a cambada toda. Sempre por perto.
E os amigos. Ah! os meu amigos! Esses então nem tenho do que reclamar, briga vai e briga vem, eles continuam comigo. Alguns passageiros, mas não menos importantes. A maioria conheço de longa data, outros conhecidos de conhecidos.
Mas, e se?
Quero dizer, e se, um dia, eu não tiver nada disso? E se, um dia, acontecer de eu realmente precisar ficar longe disso tudo, de todo o conforto e a comodidade que o ambiente conhecido proporciona? Eu juro que não saberia o que fazer. Estaria totalmente perdida.
Voltando: eu não sou, nem de longe, aquele tipo de garota revolucionária que quer mudar o mundo. Não, não. Sou bem acomodada. Mas sou do tipo curiosa.
E, muitas vezes, já me peguei a imaginar como seria, se estivesse um pouco mais sozinha. Não sozinha num quarto, ou nunca casa, ou por uma semana, apenas. Sozinha mesmo, sozinha no mundo. Num lugar onde não conheço ninguém de longa data, onde tudo é novo. Morar num estado diferente, sem pais, sem familiares ou amigos. Ser dependente de mim mesma, ter minhas responsabilidades e sentir saudades.
Não, você não leu errado. Eu morro de vontade de sentir saudades. Saudades mesmo, daquelas grandes, de escrever bilhetes e olhar fotos, de sentir passar uma eternidade antes de se abraçar novamente. A emoção do reencontro, essas coisas todas.
Eu já senti saudades, mas nada comparado a nada disso. Já senti saudades por três semanas, talvez menos. Já pensei sentir saudades muita e ver o tempo passar rápido (o que não combina com saudade). Já senti vontade de escrever carta, e-mail, ligar no meio da tarde, mas, que surpresa a minha, eu, normalmente, não tenho o que dizer. Por que sempre vejo todos constantemente, o que iria contar de novidade?
Então fiquei a pensar e pensar. No que não é, no que poderia ser, no que vai ser, no que já foi. Fiquei a pensar e pensar. Pensei de novo, e outra vez e mais uma vez.
Até agora não cheguei a nenhuma conclusão interessante. Talvez mais para frente, quem sabe? Se alguém aí pensar em alguma me diz.

Beijos,

Comentários

Linda,
quer começar a me escrever? Você vai descobrir que carta não precisa de novidade nem de informação nem mesmo de resposta, só precisa de correio.
Depois, eu - que não sou tão boa como você - há tempos decidi que sozinha é como estou sempre. Só, irremediavelmente só, porque ninguém lê ou escuta nossas palavras como nós as pensamos. A comunicação é impossível e a solidão é intransigente e inevitável. Mas o amar, ah, o amar...ninguém precisa de comunicação qdo tem mãe, pai e o pacote completo. Felicidade é isso pra mim: as pessoas. E, como o comentário já tá enorme, vou dizer só mais isso: não tenha pressa de saudade. Ela chega. E dói.
Ah, tem um selinho pra você lá no borboletas, quer?

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