Quem é você?

Com o tempo aprendi que, tentando, posso fingir qualquer coisa. Meus sentimentos, minhas amizades, meu gosto musical, gastronômico ou literário. Meu estudo e, depois, meu boletim. Posso fingir gostar ou "desgostar" de alguém, posso fingir auto-confiança, sono, dor de barriga. Qualquer coisa, exceto a essência. Quem realmente sou. A maioria das pessoas não sabe dizer quem é. Nem eu, pensando bem. Por que passamos (ou, "eu passo" para não soar ofensivo) o dia inteiro fingindo.
Não que fingir seja totalmente errado. Pelo menos não na minha opinião. Por que fingir é uma forma que o ser humano encontrou para se adaptar aos diversos ambientes. É genético até! O fingimento. Darwin mesmo disse, a evolução é a adaptação do homem ao meio ambiente. Claro que ele falava em proporções bem maiores que as minhas. Mas mesmo assim, prova o que quis dizer.
Logo, eu não vejo esse fingimento, o da adaptação ao meio, errado ou feio. Muito pelo contrário. Todo mundo quer encontrar admiração e se sentir incluído em um grupo qualquer. Até por que todos nós tememos a solidão. Então vamos fingindo até encontrar um lugar, um grupo, para se sentir bem, aprovado pela sociedade.
Não me lembro onde, mas ouvi que, se contarmos uma mentira repetidas vezes, ela se torna verdade. Quando achamos um grupo para encaixar, nem é mais necessário fingir, já é natural.
Mas, e quando você está sozinho? O que realmente pensa, quem realmente é, quando não há ninguém por perto? Quando não precisamos fingir?
Eu sei quem eu posso ser. Perto dos amigos, uma. Perto da família, outra. E assim por diante... O que eu não sei é quem eu realmente sou. Sem fingimentos.
Talvez seja por isso a constante solidão que ando buscando. Não é apenas ficar sozinha, por ficar. É encontrar uma resposta. Me encontrar.
O engraçado é que, sempre que estou sozinha, me fazendo as mesmas perguntas, buscando um sentido em qualquer coisa, eu escrevo. Eu escrevo muito. Tudo o que realmente quero. Seja poético ou grosseiro, seja emocional ou cheio de besteiras. Seja ético ou com palavrões.
Eu escrevo. O som do lápis me acalma, faz minha mente fervilhar e parar, tudo ao mesmo tempo.
Posso ainda não ter encontrado minhas respostas, não saber quem sou.
Mas eu sei que escrevo. E por enquanto, me basta.

(Nota: texto escrito em 30/05/2010)

Comentários

Eu aprendi ou passei a pensar, melhor dizendo, que não há essência, sou como uma cebola, descascando chega-se ao nada. Mas, em cada camada, eu sou inteira.

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